“Salva-­te a ti mesmo e desce da cruz.” (MARCOS, 15: 30)
Esse grito de ironia dos homens maliciosos continua vibrando através dos
séculos.

A criatura humana não podia compreender o sacrifício do Salvador. A
Terra apenas conhecia vencedores que chegavam brandindo armas, cobertos de glórias sanguinolentas, heróis da destruição e da morte, a caminho de altares e monumentos de pedra.

Aquele Messias, porém, distanciara-se do padrão habitual. Para conquistar,
dava de si mesmo; a fim de possuir, nada pretendia dos homens para si próprio; no propósito de enriquecer a vida, entregava-­se à morte.

Em vista disso, não faltaram os escarnecedores no momento extremo,
interpelando o Divino Triunfador, com mordaz expressão.
Nesse testemunho, ensinou-nos o Mestre que, ao nos salvarmos, no campo
da maldade e da ignorância ouviremos o grito da malícia geral, nas mesmas
circunstâncias.

Se nos demoramos colados à ilusão do destaque, se somos trabalhadores
exclusivamente interessados em nosso engrandecimento temporário na esfera carnal, com esquecimento das necessidades alheias, há sempre muita gente que nos considera privilegiados e vitoriosos; se ponderamos, no entanto, as nossas responsabilidades graves no mundo, chama-nos loucos e, quando nos surpreende em experiências culminantes, revestidas da dor sagrada que nos arrebata a esferas sublimes, passa junto de nós exibindo gestos irônicos e, recordando os altos princípios esposados por nossa vida, exclama, desdenhosa:
—  “Salva­te a ti mesmo e desce da cruz.”

Livro: Caminho, Verdade e Vida
Emmanuel – Chico Xavier