Na turbulência dos dias que se vive na Terra, fenômenos perturbadores multiplicam-se a cada instante, desafiando os valores éticos das pessoas.

Notícias destituídas de significado repletam as redes sociais, e a variedade de distrações compete com os deveres que se encontram aguardando, sem oportunidade de ser atendidos.

O tempo parece escoar com rapidez em razão da multiplicidade de mecanismos de fuga das responsabilidades, facultando a bisbilhotice e a curiosidade em torno de futilidades que assumem significados que não merecem, ao mesmo tempo que produzem vazio existencial, ante o exibicionismo de pessoas atormentadas, que se fazem notícia através dos artifícios virtuais.

Nunca houve tanta solidão entre as criaturas humanas como atualmente, ao mesmo tempo que a população do planeta atinge índice elevado e lota os espaços disponíveis.

Ambições desordenadas e inquietações injustificáveis campeiam, atormentando as mentes ávidas de projeção, como se o objetivo existencial fosse apenas o mentiroso prato do prazer social, que provoca inveja nuns e antipatia noutros.

A ilusão atinge exagerado panorama, arrancando o indivíduo da sua realidade para as paisagens tresvairadas da fantasia.

Tem-se a impressão de que somente o sonho do ter e do poder proporciona bem–estar, mesmo que dispare o gatilho interno da insatisfação e do medo de não poder gozar indefinidamente.

As exigências da moderna tecnologia impuseram o comportamento da velocidade, a fim de serem apreciadas todas as contribuições da comunicação virtual, impedindo-se, de certo modo, o aprofundamento das questões normais da existência.

Impuseram-se novos padrões de conduta, e, de alguma forma, a robotização do ser humano tem-se feito automaticamente.

Com essa automação, os sentimentos de amor, de solidariedade, de ternura e de caridade, assim como outros, têm ficado à margem, a prejuízo do desenvolvimento emocional enriquecido de compreensão da finalidade da vida tanto quanto das suas reais necessidades.

A valorização do corpo, da sua aparência num culto extravagante e muitas vezes patológico, vem substituindo os impositivos profundos do ser cada vez mais exigente do ego.

Aqueles indivíduos que, no entanto, não podem desfrutar dessas comodidades exageradas parecem fantasmas perdidos no ar, sem objetivos nem significados.

Como consequência desses fenômenos, aumentam os tormentos emocionais e as suas estruturas muito frágeis cedem lugar ao transtorno depressivo em alguns, enquanto noutros açulam os mecanismos de violência.

A estabilidade psicológica é muito necessária para a realização do ser humano, desde que saiba administrar os diferentes acontecimentos que lhe sucedem a cada momento.

Esse controle, que nem sempre é conseguido, resulta do hábito saudável de conduzir-se socialmente, graças ao exercício de natureza interior.

A criatura humana é o conjunto dos seus comportamentos que se transformam em mecanismos de sustentação da sua existência.

Por esta razão, nestes dias de desafios contínuos, a conquista da paz se transforma há mais valiosa meta a ser conseguida.

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Pensa-se, normalmente, que a paz é a ausência de preocupação ou de ação contínua, não passando esse comportamento de modorra, ausência de dinamismo, paralisia.

Muitas vezes, um semblante sereno oculta uma existência assinalada por preocupações, angústias e desesperos vencidos com denodo e persistência.

A luta, sob qualquer aspecto, é mensageira da ordem por cuja execução se permite a conquista da harmonia interior.

A questão diz respeito à maneira como se faz administrada a atividade que exige esforço, abnegação e persistência.

O amadurecimento psicológico do indivíduo é fator decisivo para o comportamento edificante em quaisquer circunstâncias, que culmina nesse estado de equilíbrio, prenunciador de paz e de plenitude.

Trata-se de experiências adquiridas no dia a dia, que acumulam decisões enobrecedoras.

Se desejas realmente manter a postura saudável, aquela que faculta a conquista da felicidade real, mune-te de paciência e perseverança em todas as situações em que te encontres, avançando sem cessar, passo a passo, na conquista do que te constitui meta prioritária.

Não te desanimem os obstáculos, nem receies os insucessos iniciais, que fomentarão os meios hábeis para a tua conquista definitiva.

Tem em mente que toda conquista autoiluminativa é realizada com tenacidade e amor, confiança e dedicação.

A paz política muitas vezes falha, porque não há como fazer o indivíduo harmonizar-se com qualquer tipo de imposição exterior. Pelo contrário: quando se alcança o equilíbrio interior de imediato, apresentam-se os efeitos pacificadores à volta.

Pode-se, em consequência, afirmar que num lar onde alguém logra a paz, toda a família faz-se beneficiária do equilíbrio. Quando em uma rua existe uma família pacífica, o reflexo estende-se pelos vizinhos, Uma rua onde existe valorização da vida amplia-se pelo bairro, pela cidade, pela região, pelo mundo…

A paz é portadora de bênçãos que facultam a capacidade do amor e da caridade, tornando-se fundamental para a construção da vida exuberante.

A sua ausência transtorna o indivíduo, porque, sem a serenidade que acalma as ansiedades dos desejos e auxilia no discernimento daquilo que é melhor para o desenvolvimento ético-moral, deixa vazios existenciais que se tenta preencher com atitudes de arrogância e de perturbação.

Nesse sentido, o Espiritismo, explicando as razões fundamentas do existir, os objetivos a conquistar, possui os mais excelentes elementos elucidativos para a aquisição da harmonia interior.

A paz, portanto, deve e pode ser trabalhada com serenidade, mediante ações de amor e de misericórdia que diluem as sombras da ignorância e da perversidade.

Com essa visão interna de como proceder na jornada evolutiva, os sentimentos ampliam-se e abarcam a mente que se esclarece numa perfeita identificação de significados.

Desse modo, nunca cesses de amar e de servir, assinalando os teus atos pela bondade e pela compaixão.

Não se trata de anuência com os comportamentos insanos, nem indiferença ante as agressões do mal, mas decisão de permanecer em estado de vigilância ativa, sem os altibaixos das emoções em desgoverno.

Quando não se está impregnado pela compreensão do progresso de todos, o ego produz situações muito especiais em benefício próprio, liberando arquivos do inconsciente que dão lugar a conflitos que ressurgem, porque não foram realmente superados.

Cuida para que os teus atos sejam resultado de reflexão profunda, que te propicie a escolha certa do caminho a seguir.

Toma o Evangelho de Jesus como roteiro para o comportamento e em qualquer situação desafiadora pergunta-te como faria o Mestre caso fosse Ele que tomaria a decisão. Essa indagação abre o matagal dos tormentos habituais e, como luz meridiana, clareia o pensamento e faculta o encontro seguro da trilha a percorrer.

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Quando Jesus nos prometeu a Sua Paz, afirmou-nos que somente Ele a poderia dar. Isto porque, esta é consequência do comportamento individual na vivência dos postulados por Ele ensinados e vividos.

A Sua serenidade em todas as situações demonstrou-nos a grandeza dos valores éticos de que era portador.

Sabendo que seria traído por um amigo e por outro negado, não demonstrou contrariedade nem decepção, antes lhes revelou com delicadeza os perigos em que tropeçariam e, após consumada a tragédia, buscou o primeiro, que se suicidara, nas regiões tormentosas para onde se atirou e o outro novamente convidou a que pastoreasse o Seu rebanho.

Se desejas essa paz, segue o Mestre e imita-O sempre que possas, e, sem que te apercebas, estarás entesourando a paz que te fará verdadeiro Filho de Deus.

 Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Pereira Franco, em 24 de outubro
de 2018, na Mansão do Caminho, em Salvador, Bahia.
Em 6.8.2020.